O final de um ano difícil

Todos os anos, fazemos um texto para celebrar o final do ano e as conquistas que ele trouxe, as mudanças que vieram e o que aprendemos com elas. É, habitualmente, uma época de refletir sobre tudo isso e nos preparar para o próximo ano.
Desta vez, nossa reflexão é diferente: é mais dura, mais sofrida. O que, afinal de contas, aprendemos em 2020? Será que tem algo que se aproveite de um ano tão bizarro quanto este? Crise, pandemia, negacionismo, polarização, violência verbal e física, fake news, estupro culposo, milícias, queimadas, nuvem de gafanhotos, seca… Enfim, por mais que pareçam as pragas do Egito, tem o que aprender e tem o que celebrar, sim.
Com tudo isso, tem que celebrar que estamos vivos e lembrar que mais de 180 mil brasileiros se foram em uma pandemia como o mundo não via desde a gripe espanhola, em 1918. E tem que aprender que fazer de conta que isso não é nada é coisa de genocida, de quem não governa, de quem não tem projeto para o país e ainda por cima quer que você e eu façamos de conta que nada está acontecendo.
Tem que celebrar que já foi desenvolvida uma vacina, fruto do esforço de milhares de cientistas em todo o mundo, todos envolvidos em um projeto único de encontrar uma saída segura. Tem que aprender que a ciência pode nos dar respostas e que o negacionismo científico não leva a lugar algum.
Tem que celebrar que a gente ainda tem comida na mesa, enquanto milhões de brasileiros estão desempregados, de volta à linha da miséria. Tem que aprender que quando a gente vota em quem não tem projeto para o país (e que nunca teve, é só ler o programa de governo publicizado durante as eleições) a gente corre o risco de jogar fora todo o potencial que esse país tem. E pior: condena as pessoas e as instituições públicas a uma morte lenta e agonizante.
Tem que celebrar que a Copel, a Petrobrás e outras grandes empresas brasileiras ainda são públicas e aprender que votar em quem tem projeto privatista neoliberal, seja na esfera estadual ou federal, leva a perdas irreparáveis. Perda de emprego, de autonomia, de dignidade.
No fim, tem que aprender que tudo nessa vida é político. Por mais que as pessoas queiram deixar a política de lado, como se fosse algo de pernicioso e torpe, é deixá-la de lado que nos traz até o ponto em que estamos.
Assim, desejamos a todos que o final de 2020 seja um momento de refletir de verdade, não só da boca pra fora. Não é só ouvir a musiquinha da Simone e pensar um pouquinho. É pensar profundamente no que podemos fazer efetivamente para que em 2021 possamos ter alguma esperança de futuro.

Boas festas a todos, sem aglomeração e com máscara.

trilha de fim de ano: