Venda da Copel Telecom

Mais uma vez, a privatização bate à nossa porta

Não é segredo para ninguém que governador do Paraná tem a intenção de retomar a agenda de privatizações no estado. Desde a campanha eleitoral e depois de eleito, ainda antes de tomar posse em 1o. de janeiro, Ratinho Jr. vem demonstrando suas claras intenções de vender empresas estatais ou que têm participação do estado, como a Compagás e a Copel Telecom. Recentemente, em entrevista à Gazeta do Povo, ele reafirmou essa intenção, o que tem preocupado trabalhadores dessas empresas, o movimento sindical e a população do estado.
Na última terça-feira, 07 de maio, durante reunião com o Sindelpar e outras lideranças sindicais, o diretor-presidente da Copel Telecom, Wendel Oliveira, fez uma exposição a respeito da venda da companhia. Segundo ele, muito foi investido na empresa, que até hoje não deu retorno; além disso, disse “telecom não é DNA da Copel, que é geração, transmissão e distribuição de energia”. Oliveira ecoa o discurso do governador, que disse à Gazeta do Povo que “não há justificativa para o estado ter duas companhias que atendem só ao setor privado. A Copel Telecom não tem como disputar com as maiores do mundo, que estão todo dia colocando dinheiro em uma velocidade muito maior. Não tem por que a gente manter esse ativo sendo que está faltando dinheiro para outras áreas. É uma bobagem”.
Entretanto, o que parece não ter sido considerado nessa “bobagem” é a importância da empresa atualmente. A Copel Telecom foi considerada a melhor empresa do setor no país em 2018: a mais bem avaliada em uma pesquisa da Anatel com 100 mil usuários de operadoras públicas e privadas e teve faturamento de R$ 500 milhões no ano passado. Mais que isso, é hoje a responsável pela conexão de mais de 2.000 escolas estaduais, além de vários municípios paranaenses. E é uma empresa com participação do estado e que demonstra eficiência e qualidade, como a própria Copel.
Durante a reunião, as lideranças sindicais foram firmes em sua posição contrária à privatização de QUALQUER empresa, em especial empresas ligadas à Copel Holding, nas quais atuam seus representados. Privatizar uma empresa eficiente e lucrativa é um precedente perigoso para o estado e pode ser apenas o início de uma leva de privatizações. Já há algum tempo Brasil vem sendo palco de ataques constantes às empresas públicas, vindos de todos os lados, inclusive em grupos de mensagens pessoais, como o WhatsApp. Acontece que a maior parte das informações compartilhadas não apresenta fontes ou autores conhecidos e pode ser classificada no limbo entre mentirosas e equivocadas. Daí o nome fake news (notícia falsa).
A privatização da Copel Telecom, ainda está em fase de estudo, segundo Oliveira, um executivo oriundo do setor privado que assumiu a frente da empresa após a eleição de Ratinho Jr. No entanto, o estudo não é sobre se a empresa será vendida, mas como isso ocorrerá. Na semana que vem deverá ser divulgado um relatório sobre isso, elaborado por um grupo de trabalho específico. Mas se tal venda coloca um precedente perigoso para as empresas públicas, ele é especialmente nefasto para a Copel.
A privatização da Copel é um assunto que volta à pauta do governo do estado com frequência. Em 2001 um grande movimento tomou conta do estado, mobilizando os trabalhadores, os sindicatos e os cidadãos para evitar a venda da companhia. Na esteira da privatização do Banestado, marcada por irregularidades flagrantes e escabrosas, a Copel estava na mira do grupo Lernista e do neoliberalismo. Em 2001 o Sindelpar se engajou, juntamente com outros setores sociais, numa batalha de verdade pela empresa, num movimento histórico contra a privatização, posição adotada por 93% dos paranaenses. No dia 14 de agosto iniciava-se uma marcha em Curitiba rumo à Assembleia Legislativa para entregar um Projeto de Lei de iniciativa popular, o primeiro feito no estado: com mais de um milhão de assinaturas, o projeto proibia a venda da companhia. Dois dias depois, a Assembleia foi ocupada por trabalhadores, estudantes, líderes sindicais, comunitários e cidadãos comuns para protestar e impedir que o estado fosse lesado, mostrando a cara e a intenção de fazer a vontade do povo valer. Naquele momento o paranaense mostrou o seu valor: mostrou que estava atento ao que se passa à sua volta e que não deixaria que o seu direito e o seu patrimônio fosse entregue.
Em 2011, houve mais uma tentativa pela criação de uma Agência Reguladora para energia, saneamento e água e o de informática. Tais agências surgem para regular e fiscalizar serviços públicos e de interesse público prestados pela iniciativa privada. Então por que criar uma agência reguladora se não há intenção de privatizar? Essa foi a pergunta que levou o movimento sindical mais uma vez agir e contribuir no arquivamento desta medida.
Em 2015, novamente o fantasma apareceu na forma do Projeto de Lei 662/2015, enviado à Assembleia Legislativa em setembro pelo governo Beto Richa. O objetivo, escondido entre várias outras medidas diferentes, era liberar a venda de ações de companhias públicas, como a Copel, pelo estado. Mais uma vez foram os sindicatos fazer pressão e lutar pelo arquivamento do projeto.
Agora, em 2019, o assunto surge novamente: governador diferente, interesses parecidos. Não à toa Ratinho Jr. foi secretário do governo anterior e, embora ele tenha tentado descolar sua imagem da de seu antigo chefe, estamos aqui para lembrar da proximidade entre os dois. Estamos vendo a disposição do governo em vender uma parte da Copel. Quanto tempo será que demora para chegar a vez da própria Copel? Nós não queremos esperar pra ver. E você?